sábado, 14 de fevereiro de 2009

CRISES

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NALDOVELHO

Caminho profuso em crises,
profundas seqüelas, passagens,
vestígios, sinais de mim mesmo,
testemunhos dos meus ais.

O feitiço, conjurado na terra,
só o vento pode desmanchar.
O feitiço, forjado a fogo,
só a água pode amenizar.

Sangue, suor e desgosto,
securas de lágrimas por dentro,
dor de constrangimento,
de culpa e destrambelhamento.

A teia que a aranha constrói,
aprisiona, sufoca, destrói.
Os cortes talhados na carne
só com o tempo vão cicatrizar.

O vinho derramado na mesa,
o pão mofado no armário,
toalha manchada de sangue,
nada que eu possa ofertar.

O terço que eu rezo faz tempo,
palavras que revelam poemas,
só aprofundam a dor que eu sinto,
nada que se possa curar.

Templos profanados, pecados,
escolhas, que eu faço, erradas...
E mais crises, cruzes e credos,
inquietudes que eu trago em sementes.

Teci por descuido um feitiço,
por nostalgias, lamentos, gasturas,
e hoje, por mais que eu queira e tente,
não consigo exorcizar.

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