sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

FLOR DE LIS

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NALDOVELHO

O trem na estação anunciou a partida.
Um navio malvado levou minha amada.
Estrada que segue e anuncia a distância
e a rosa, tão linda, despetalada no chão.
Madrugadas repletas de amores dispersos,
desencontros, viagens, cicatrizes, feridas,
a saudade inclemente aninhada em meu peito
e o espinho da rosa sangrou minha mão.
O vento varreu o outono pra longe,
trouxe chuva insistente, noites tão frias,
calou as conversas, esquinas desertas,
foragida a lua pra bem longe daqui.
Palavras que em versos se mostram estranhas
e acasaladas, insanas, inventam a cantiga.
Sonoridade profana, orgia de versos,
remédio pras dores do desamor.
Mandei construir no quintal lá de casa
um templo sem portas, janelas, tramelas,
um templo de versos, cantigas, poemas,
sagrei o meu pranto, semeei o meu canto,
e orei em silêncio, aguardando o porvir.
Notícias dos longes dão conta que em breve
um outro navio vai aportar por aqui,
trazendo a certeza da delicadeza,
muitas outras cantigas repletas de versos
e ainda bem que o tempo cicatrizou as feridas,
preservou a semente que brotou flor de lis.

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