domingo, 15 de fevereiro de 2009

CONTRA A MARÉ

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NALDOVELHO

Água cristalina, solitária nascente, gotejando sementes.
Construir o presente no ventre de uma mulher.
Filetes de pedra, mais parecem espinhos,
cristalinas escarpas, fronteiras em desalinho.
Eu vi um menino a escalar a montanha
e a escrever com as mãos o seu próprio destino.
Braço de um rio a sagrar o seu curso,
navegar, navegar, descobrir o seu ninho,
aportar, lançar amarras, alterar meu destino,
fazer do amor que floresce a razão dos meus sonhos.
Poderosa enchente que a tudo renova...
Adernar, naufragar, me afogar em delírio,
descobrir que a dor impulsiona o ser.
Desgovernado que seja, alterar o meu curso,
ver um mar raivoso, ser a foz de um rio,
ou uma velha embarcação resistindo ao açoite.
Prosseguir mar afora, peregrino e vadio,
pela força dos ventos, da saudade e do cansaço.
Eu vi um menino, sobrevivente dos tempos,
a escrever com as mãos o seu próprio destino,
a procura de um norte, a desafiar a própria morte.
Suas mãos calejadas por lutar contra a maré.
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