quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

POEMA DILACERADO

.
NALDOVELHO

Por saberes, segredos, essências,
sacramentos, sagradas sementes.
Sangue, suor e saliva,
saboreados assim indecentes.

As lágrimas que eu trago comigo,
são salgadas, veneno latente.
Silenciosa e insidiosa serpente
que na tocaia sibila contente.

Um bardo a buscar um consolo
num poema feroz e indecente,
cantou cantigas de um tolo,
afogou-se em tonéis de aguardente.

Um palhaço lamenta e chora
a desdita de um ser tão descrente.
A poesia que eu trago comigo
já não jorra da mesma nascente.

Profanei os meus templos, faz tempo,
naufraguei bem próximo ao cais,
soçobraram os meus sentimentos,
só restaram alguns poucos ais.

Saberes, segredos, sementes,
sangue, suor e aguardente,
gotejando do canto dos lábios,
letras frias demais!

A poesia que restou sem abrigo,
versos tortos paridos gemidos
só destoam e ainda que doam,
não conseguem trazer-me à paz.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário