sábado, 14 de fevereiro de 2009

TESTEMUNHA OCULAR

.
NALDOVELHO

Sobre o tapete do meu quarto
um grupo imenso de letras
passeia alegremente.
Um outro grupo indolente,
preguiçosamente sobre a cama,
cochila impunemente.
Mais outras tantas, no sofá,
acomodadas, assistem à televisão
à espera do noticiário.
Sobre a estante, num vai e vem incessante,
milhares delas tentam se organizar
sobre uma folha de papel em branco.
Buscam acasalar-se em sílabas
na tentativa insana de formar palavras,
verbos, frases, significados.
Algumas mais românticas
preferem construir versos.
Letras líricas e emocionadas;
acreditam que possam unidas
edificar um belo poema,
uma mensagem de amor.
Letras ousadas!

E enquanto isto em minha mente,
notas insistentes ecoam,
seres alados e impertinentes
na pretensão de se unirem aos versos
em harmonias explícitas,

sensuais, viscerais,
melodias sedentas que possam
deixar marcas bem fundas
dentro de cada um de nós.

Só falta então abrir a janela
e deixar a danada da inspiração entrar
e dar sentido a toda esta orgia.
E acreditem!
Não há nada que eu possa fazer a respeito:
sou só uma testemunha ocular.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário