domingo, 15 de fevereiro de 2009

VERSOS BASTARDOS

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NALDOVELHO

De uma relação promíscua
entre o sonho e o verbo,
nasceu de forma transversa
um poema de versos indigentes
que rebelados e urgentes
por desencontradas rimas
e métricas incoerentes,
foi denominado bastardo
por críticos reticentes.
E por estar impedido ao nome,
ao ser considerado espúrio,
foi chamado de prematuro
e de prosa em versos incandescentes.
Que assim rejeitado pôs-se a falar na vida,
de tudo aquilo o que se sente,
com a linguagem da minha gente
e de um jeito franco e desavergonhado,
sem regras e sem limites,
principalmente destrambelhado
e visceralmente ousado.

Ainda que mestiço,
mulato, caboclo, cafuzo,
e algumas vezes,
um tanto ou quanto confuso,
esta é a minha vertente
e tem a cara de um Brasil bem matreiro
que mistura piano de calda e pandeiro,
zabumba e violino em terreiro,
se bobear, caviar com cachaça
e muita mulata suada na praça
só pra dar água na boca
e um desconforto danado
toda a vez que ela se põe a sambar.
Cravo, pimenta e canela,
só para nos infernizar.

A minha vertente inventa caminhos profanos
por pura irreverência ou pirraça,
desafia zombeteiro e esculacha
aqueles que tentam me aprisionar.

Pois que sejam em prosas os meus versos,
inquietos, indecentes e confessos,
pois a poesia que eu trago
comigo ninguém vai conseguir calar.
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