sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

AINDA QUE EM SONHOS

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NALDOVELHO

Quinas, esquinas, ruas transversas,
vias expressas, paralelas, complexas,
os carros se apressam, correria tamanha,
cidade truncada, sitiada e insana.

A sirene, o sinal, o aviso é vermelho.
Navegar eu preciso, descobrir o segredo,
decifrar o enigma que eu vi em seus olhos,
renovar o meu pacto, exorcizar meus demônios.

Se eu seguir por esta rua vou morrer numa praça,
se eu dobrar a esquina vou cair em desgraça,
se eu romper a fronteira vou virar um estranho,
se eu ficar onde estou: naufragar em enganos.

E o relógio avisa, já não há muito tempo,
e o amor que eu tinha viajou pra bem longe,
só deixou de presente um retrato e uns discos,
e eu nem tenho vitrola, mesmo assim os guardo.
Ainda tenho os poemas que eu teimo e que choro,
ainda tenho alguns quadros, luminosos matizes
e uma sede danada, quem sabe um conhaque?
E a inquietude ainda mora lá dentro de mim.

Quinas, esquinas, o bairro onde eu moro
tem uma via expressa, complexa, estranha.
Se eu romper a fronteira vou virar um estranho,
navegar eu preciso ainda que em sonhos.

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