sábado, 14 de fevereiro de 2009

EM CIMA DA MESA

.
NALDOVELHO

As portas, os trincos, as trancas, tramelas,
janelas fechadas, carências, esperas,
fiquei tão sozinho, estranha quimera.
Junto ao abismo construí o meu ninho,
maresia que rola corrói as entranhas
e o vento que bate apaga a chama.
Nostalgia tamanha, incomoda e arranha.
O som de um piano, harmonia de enganos,
dissonâncias que a vida deixou de presente,
ainda as guardo comigo, todas latentes.
Cortina entreaberta, penumbra ambiente,
o rádio ligado, melodia estranha,
um poema com versos inquietos, profanos.
A campainha que toca, provável engano.
Faz tempo eu mudei, não avisei a ninguém!
Vivo trancado, só que ainda não sei.
Do caminho, passagem, perdi minha chave!
As lágrimas que eu tenho, conservo-as acesas,
e os muitos guardados revelam tristezas,
e os muitos poemas testemunham a cena.
Testamento que eu deixo em cima da mesa.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário