domingo, 15 de fevereiro de 2009

INCOERÊNCIAS

.
NALDOVELHO

Trago as costas arqueadas
pela força do chicote
e o risco da navalha
desenhado em meu rosto.
Trago flechas encravadas
espalhadas pelo corpo
e as mãos ensangüentadas
pela dor de tanto esforço.

Trago a lágrima chorada
na plenitude dos meus ais
e no peito a certeza
de chorar ainda mais.
Trago a pele já curtida
por caminhos, invernadas
e o demônio aprisionado,
companheiro de jornada.

Trago o santo e o obsceno
em batalhas desmedidas
e a sanha desta vida
por atalhos, despedidas.
Trago a escolha de um rumo,
conseqüências, incertezas
e perda eminente
por ter sido incoerente.

Trago lábios encharcados
de sorrisos e ternuras
e nos versos o veneno,
a inquietude e a loucura.
Sou poeta, sou cigano,
eremita, vagabundo,
coisa incerta e descoberta
pelas trilhas deste mundo.

Ventania, correnteza,
mar bravio, aspereza,
água pura e aguardente,
sangue frio e sangue quente.
Sou deserto, sou oásis,
sou procura, sou viagem,
sou espinho que arranha,
sou verdade, sou miragem.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário