segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

PREFÁCIO DE BEATRIZ ESCÓRCIO CHACON

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NÃO É COFRE, É CAIXA SEM TRINCOS

O que coleciona um poeta? Deve ser um tanto do que está nessa caixa de manias, poesia de número trinta e três. Acho graça dos pedaços de quartzo e das pedras redondinhas de beira de rio, e nem é pra usar aspas, todo poeta deve ser guardador de um mimo assim. Mas o que me intriga não é a mania – cada poeta com a sua, cada louco com o poema de todos. O quer seduz é a própria caixa, transparentemente aberta, se esgotando em mais cacos brilhantes de vida. São papéis fantasiados de palavras.

É sedutora a coleção exposta do Naldo, velho amigo de confissões ao primeiro livro. Poesia de peito aberto, ora a sangrar, a inebriar o lado esquerdo de tantos outros. Que há muito não se colhem uns versos tão “ardidos” de ausências, e infusos de alfazema, tatuados de rosas murchas, crisântemos, sementes. E há tanto não se encontra na cidade um romântico de luas cheias, insônias, janelas e musas, beijos derramados num seio.

E também nessa caixa sem trincos, um violão. Pelas paisagens do quarto, dos mangues e avenidas de rios brancos, Naldo vai cantarolando lirismos. Parceria com anjos travessos, obscenos, sorridentes, caídos, seus amigos no dia-a-dia.

Com que cacos-palavras, portanto, um poeta faz coleção? Nessa caixa luzidia do Naldo, incontáveis, ao alcance. Tocar este livro com toda a nossa delicadeza. Nele recebemos toques de “belezas tristes”. Mania bendita.

Beatriz Escorcio Chacon
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