sábado, 14 de fevereiro de 2009

AINDA QUE SEM SENTIDO

.
NALDOVELHO

Um laço, um nó, um embaraço,
um emaranhado de linhas largadas
num canto de um quarto.
Perdi o fio faz tempo, só preservei o pavio,
ainda que sem sentido,
pois até a pólvora que eu tinha
o vento soprou e levou.
Um aglomerado de coisas,
entre elas papeis rabiscados,
esboços de imagens, bobagens,
versos doídos, saudades.
Guardei também muitos discos,
apinhados num canto da casa.
Ainda que sem sentido,
pois até a vitrola que eu tinha
a danada da vida quebrou.
Um trinco, um cadeado emperrado,
a porta do quarto, trancada,
móveis e utensílios sem uso,
poeira, ferrugem, passado.
No quintal uma velha goiabeira,
um pé de amora e um balanço...
Ainda que sem sentido,
pois até a criança que eu tinha
o tempo inclemente matou.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário