sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ESPELHO

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NALDOVELHO

No espelho vejo marcas,
linhas gastas, cicatrizes,
cabelos brancos, bem curtinhos,
barba rala, já grisalha,
olhos tristes, marejados,
algum vestígio de coragem,
lábios finos, ressecados,
um sorriso disfarçado
e a peçonha gotejando.
O veneno ainda atua,
apesar dos muitos anos.

Vejo mãos já calejadas
pela lida do caminho,
por colheitas, por espinhos,
por semeios, por escolhas,
parte delas equivocadas,
pelas perdas, foram tantas,
pelos ganhos que eu preservo,
pelos sonhos, ainda os tenho.

No espelho vejo um homem,
meio tolo, um poeta
que ainda teima e faz planos,
que acredita em gnomos,
feiticeiras e sereias
e traz no corpo tatuagem
feita em tempos de tormenta,
um desmanche de feitiço,
foi mordida de serpente,
vez por outra ainda sangra
e na saudade ainda inflama,
nunca mais cicatrizou.

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